sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

OARLANDO SILVA: CANTOR DAS MULTIDÕES

Orlando Garcia da Silva, cantor. Y 3/10/1915, Rio de Janeiro, RJ ~ V 7/8/1978, Rio de Janeiro, RJ, por isquemia (derrame) cerebral.

Filho de José Celestino da Silva, exímio violonista mas que Orlando não chegou a ver tocar pois morreu em 1918 (Gripe Espanhola) e de Balbina Garcia Silva. O casal teve três filhos. Mais tarde, no segundo casamento com o guarda municipal Júlio Nunes de Oliveira, D. Balbina teve outros quatro filhos.

Orlando não passou do primeiro ano escolar pois passando dificuldades financeiras, teve que ir trabalhar para ajudar o bom padrasto Júlio. Foi então entregador de marmitas, estafeta, operário de uma fábrica de cerâmicas, aprendiz de sapateiro e entregador. Foi neste último ofício, com 16 anos, que ao tentar subir num bonde, acidentou-se e teve amputados quatro dedos do pé esquerdo. Com dificuldades de locomoção empregou-se como cobrador de ônibus.

Apesar de nunca ter estudado música e ser extremamente tímido, desde pequeno era atraído pelo canto. Chegou a cantar em circos, clubes, restaurantes e cinemas. Em 1934, apresentado pelo compositor Bororó, estreou na Rádio Cajuti (Tijuca ao contrário) no programa de Francisco Alves, o qual ajudou-o muito em sua carreira. Gravou seu primeiro disco na Colúmbia com o samba Olha a baiana (Kid Pepe e Germano Augusto Coelho) e a marcha Ondas curtas (Kid Pepe e Zeca Ivo), ambas para o carnaval de 1935. Seu segundo disco foi feito neste mesmo ano na RCA Victor, onde permaneceu até 1942. Este foi o período de ouro em sua carreira.

A primeira vez que o Orlando saiu do Rio foi para se apresentar em Santos, logo em seguida São Paulo. Cantou praticamente em todo o Brasil, e seja lá onde se exibisse, realmente arrebatava multidões para assisti-lo.

Quando veio a São Paulo em 1938 e cantou para um público de 10 mil pessoas, o radialista Oduvaldo Cozzi lhe atribuiu o "slogan" de "O Cantor das Multidões".

Cantando, chegou a participar de três filmes Cidade mulher (1936), com a música de Noel Rosa que deu título ao filme, Banana da terra (1939), interpretando A jardineira de Benedito Lacerda e Humberto Porto e Segura essa mulher (1946) com a música Carnaval do passado de Lamartine Babo.

Em 1939, depois de um espetáculo do famoso tenor italiano Tito Schippa, Orlando foi cumprimentá-lo e perguntou-lhe: "Mestre, o que devo fazer para ter a sua técnica?". O tenor pediu-lhe para cantar, ali mesmo, duas ou três músicas, e ao final lhe disse: "Bravo, bravíssimo! Quer saber de uma coisa, rapaz? Você não precisa estudar nada, continue assim, eu gostaria de poder cantar exatamente como você, que canta o que quer. Sou obrigado a cantar o que eles querem..."1

Em 1942 começou um processo de alteração do timbre da voz devido à utilização de morfina (o cantor teve sérios problemas dentários nessa época e a utilizava para aliviar as dores), da qual ficou dependente. Mais tarde passou também para o álcool. Apesar disto, continuou gravando pelo selo Odeon, mas seu prestígio, a partir daí, foi decaindo.

Em sua carreira cantou nas rádios Inconfidência (com programa próprio), Transmissora, Nacional (desde sua inauguração em 1936 até 1945, quando foi afastado), Mayrink Veiga e Guanabara.

Em 1951, em fase de restabelecimento, novamente Francisco Alves o levou para apresentações esporádicas na Rádio Nacional. Já no ano seguinte, com a morte do "Rei da Voz", foi indicado para substituí-lo no programa dominical de maior audiência da Rádio, Quando os ponteiros se encontram, o que fez até 1955.

Em 1940 teve um caso amoroso atribulado com a atriz Zezé Fonseca (Maria José Fonseca) que durou até 1943. Em 1947 casou-se com Maria de Lourdes Souza Franco, que o ajudou muito a reerguer-se da vida desregrada.

Em 1956, por forçar demais a caminhada, teve de amputar o pé por receio de gangrena e receber um pé mecânico.

Em 1959 voltou a gravar pela RCA Victor onde permaneceu até a sua morte. Em 1974 gravou na Victor o LP Orlando Silva Hoje com músicas de Taiguara, Antônio Carlos e Jocafi, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros.

Em 7/8/1978 faleceu no Hospital Gaffrée Guinle e foi sepultado no Cemitério São João Batista. O público participou do cortejo entoando a valsa Carinhoso.

Sérgio Bittencourt, no Última Hora, em 10/8/78, opinou: "Quando Orlando Silva surgiu, havia duas ‘escolas’ populares. A de Francisco Alves, voz empostada... que competia com a de Sílvio Caldas, voz limitada, muita interpretação... até que Orlando Silva surgiu, conseguindo ser a síntese, com personalidade própria, de ambos. Orlando foi cantor e intérprete.2

O jornalista Moacyr Andrade, no Jornal do Brasil, em 12/8/1978 escreveu: "O alcance da voz que subia ou descia sempre maviosa e inesperadamente a escala de tons; o exemplar sentido de divisão; a pronúncia perfeita, a respiração impecável, a afinação inigualável, o timbre nada menos que amável... e o sentimento verdadeiro criativo."3

O famoso compositor Adelino Moreira deixou a sua impressão: "Orlando Silva foi o único cantor brasileiro que, sem ‘máquina’ para se promover, alcançou um sucesso absoluto, graças a seu talento. Nas cidades em que se apresentava fazia-se feriado só para escutá-lo"4



Principais sucessos de Orlando Silva:

A jardineira, Benedito Lacerda e Humberto Porto, 1938

A última canção, Guilherme Augusto Pereira, 1937

A última estrofe, Cândido das Neves, 1935

Abre a janela, Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, 1937

Alegria, Assis Valente e Durval Maia, 1937

Amigo leal, Benedito Lacerda e Aldo Cabral, 1937

Aos pés da cruz, Marino Pinto e José Gonçalves, 1942

Atira a primeira pedra, Ataulfo Alves e Mário Lago, 1943

Brasa, Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1945

Capricho do destino, Pedro Caetano e Claudionor Cruz, 1936

Carinhoso, Pixinguinha e João de Barro, 1937

Chora, cavaquinho, Dunga, 1935

Curare, Bororó, 1940

Errei, erramos, Ataulfo Alves, 1938

Lábios que beijei, J. Cascata e Leonel Azevedo, 1937

Mal-me-quer, Newton Teixeira e Cristóvão de Alencar, 1939

Meu consolo é você, Nássara e Roberto Martins, 1938

Meu romance, J. Cascata, 1937

Nada além, Custódio Mesquita e Mário Lago, 1938

Número um, Benedito Lacerda e Mário Lago, 1939

Quando se pede a uma estrela, L. Harline e Z. Yaconelli, 1940

Rosa, Pixinguinha e Otávio de Souza, 1917
Sertaneja, René Bittencourt, 1939

Súplica, Octávio G. Mendes, José Marcílio e Déo, 1940

Juramento falso, J. Cascata e Leonel Azevedo, 1937